No ônibus –
Não precisa nem dizer que esse meio de transporte não é uma opção que faz parte do meio das pessoas classudas. A não ser que você pegue um ônibus de dois andares em Londres ou um Sightseen que percorre as ruas de Paris, você pode sentir-se um pouco mais aliviado em colocar a palavra ônibus no seu vocabulário. Do contrário, ainda que seja a linha que faça o Leblon, não é uma boa idéia comentar, porque ele chacoalha e tem os assentos nojentos como todos os outros que fazem qualquer destino do Rio de Janeiro. Nem cogite a idéia de frescão, porque o próprio nome insinua pobreza. Frescão deixa bem claro que você está ensopado de suor e que vai secar a sua roupa imunda num ar condicionado de ácaros que lhe darão uma doença bem desqualificada como rinite, conjuntivite, amigdalite e outros “ites”.
Claro que todos estamos vulneráveis às peripécias da vida. O destino nos estraçalha quando decidimos sair de casa, elegantérrimos, rumo à festa mais esperada do ano e descobrimos que o nosso cofre de moedas não tem dinheiro suficiente para bancar um taxi. Que situação!
O que fazer? Bem simples. Em primeiro lugar, não fique parado no ponto de ônibus esperando a condução porque o seu traje vai destoar dos demais e logo será notado. Mantenha-se a metros de distância, finja estar vendo alguns Best Sellers na vitrine de uma livraria, por exemplo, e não desgrude os olhos dos ônibus que passam, porque perdê-lo pode tornar a situação um drama incorrigível.
Assim que esse meio de transporte se aproximar, entre correndo, sem olhar para os lados, pois pode ser que alguém lhe reconheça. Ao entrar, cumprimente o motorista com as mãos e faça “cara de perdido” (treine no espelho, pois é muito importante passar a credibilidade de que aquela é a primeira vez que você entra num transporte público). Para o trocador sorria, faça movimentos leves e pergunte o valor da passagem, num tom de voz mediano para que todos ali presentes ouçam e percebam que você é um VIP, e um VIP não tem a mínima idéia do valor da passagem. Fica bastante original se você disser que foi assaltado caso não tenha a quantia de moedas para pagar.
Viu como é simples? Agora uma dica chiquérrima: nunca desça em frente ao local, vá andando até o destino e diga que entregou o carro ao Valet Parking. Seus amigos VIPS não merecem saber a verdade.
Retirado do livro "Como ser TOP sem ser VIP", de Bruno de Abreu Rangel
