sexta-feira, 16 de julho de 2010

Como ser VIP no restaurante



No restaurante-

A prática de ir a um bom restaurante ou, de preferência, a um bistrô francês, a uma cantina de massas italianas ou a um hotel cinco estrelas de cozinha internacional, é coisa para uma parte seleta da população.

Como você está bem longe disso, tem que se contentar com aqueles restaurantes “pé sujos” onde você costuma ir. Portanto, passou da hora de você parar de freqüentar lugares inóspitos que servem torresmo oleoso, acompanhado com cerveja num copo de geléia e um bando de desempregados que tocam música de baixo escalão e que, ainda por cima, têm a audácia de cobrar couvert artístico, quando na verdade nem sabem o significado da palavra.

Seja um gourmet nato e entre para o roteiro gastronômico VIP. Faça parte do mundo saboroso dos ricos. Aqui darei dicas de como obter esses luxos sem pagar um centavo. Para degustar uma comida de verdade, na companhia dos seus amigos superqualificados, é preciso que alguns sacrifícios sejam feitos. No entanto, é sempre bom ter o dinheiro no bolso como plano B, caso algo não saia como o previsto. E, para isto, atrase mais uma conta, ou melhor, algumas parcelas da sua televisão de plasma que foi dividida em 72 vezes, e... Mão na massa!

Uma coisa que você precisa ter em mente, é que no mundo das pessoas educadas e sofisticadas existem algumas letrinhas mágicas como RSVP, que você já deve ter visto num convite de um jantar chiquérrimo, numa festa de casamento, ou numa cerimônia de gala e ficou com vergonha de perguntar o significado tamanha a ignorância. Isso não é uma sigla de um time de futebol, muito menos a marca de uma bolsa, e sim uma expressão francesa "Répondez S'il Vous Plaît", que significa “Responda, por favor”. Uma forma educada de confirmar sua presença. Se houver um milagre e, por acaso, você receber um convite desses saiba que é para confirmar mesmo e não para chegar com essa cara imunda de despercebido.

Para reservas convencionais nos restaurantes do circuito VIP, saiba que você corre o risco de entrar para a lista dos “mediante disponibilidade” ou, até mesmo, ser recusado do meio em que visa fazer parte. Uma dica infalível é ligar para o local e dizer que está dando um pseudônimo, porque não quer ser identificado, apenas as celebridades e os ricaços tem essa atitude. Com toda a certeza do mundo, o maitre preparará algo especial para sua recepção.

Chegue ao restaurante com passos firmes e elegantes, imagine que você é uma modelo prestes a entrar numa passarela abarrotada de paparazzis afoitos por um pedaço da sua imagem. Para isso foram criados os restaurantes finos, lugares para ver e ser visto pelas pessoas do meio que vão com a desculpa de saborear algo, senão o próprio ego.

Na mesa, espere que alguém tire a cadeira para você sentar. Não vá chegando e metendo essa sua mão suja de graxa, porque isso não existe. Uma vez que o cardápio esteja em mãos, não vá fazendo o pedido como se estivesse numa pizzaria ou no Mcdonalds. Faça corpo mole. Não olhe para o garçom e deixe que ele fique ali ao seu lado com cara de tédio esperando que alguém se manifeste, enquanto vocês travam assuntos de rico, falam sobre uma viagem num destino bem cotado, como um passeio pelas pirâmides do Egito, a grandeza da muralha da China, enfim, alguma das sete maravilhas, sempre funciona. Quando você perceber que o garçom esta prestes a estourar ou com feição de quem está segurando o xixi, faça o pedido lentamente e sempre com um sorriso falso na face, o humor deve permanecer e isso irrita qualquer um, porque ser chique incomoda.

Jamais, em hipótese alguma, pergunte o que está escrito no cardápio. Se você não tem a capacidade de ler noutro idioma ou nem mesmo o que significa em português, ninguém merece saber que está sentado com um boçal. Apenas peça. Independente do que vier, será melhor do que você come na sua casa.

Ah! O vinho. É interessante você passar a impressão de que é frequentador assíduo de enotecas ou que, constantemente, visita vinícolas ao redor do mundo. Então, entre no Google, pesquise sobre os tipos de vinhos para não ter a infelicidade de pedir um tipo que não cairá bem com a comida. Não pague mico. Aquela pessoa que lhe pedirá para provar a qualidade não é um garçom, aquilo se chama sommelier. Ainda degustando o vinho, faça movimentos giratórios com a taça, cheire, depois brinque com o líquido olhando para a densidade, cheire novamente, deguste, passe a impressão de que todos os seus sentidos estão aguçados. Faça esse ritual por alguns minutos, deixe um suspense na mesa e então, pronuncie:

- O senhor teria algum outro tipo para me oferecer, sinto que as uvas desse não foram bem colhidas. Não sinto o cheiro de frutas vermelhas nesse Cabernet Sauvignon. Por gentileza, providencie algum rótulo da região do Bordeaux, porque esses sim são perfeitos. Desculpe a indelicadeza.

Repare a expressão de todos na mesa. Estão pasmos com sua finessi e o sommelier, certamente, fará uma retirada triunfal para a adega em busca de um produto especial para você.

Não deixe a mesa com um silencio fatídico, é nesses momentos que você deve impor sua presença dando suporte ao que está acontecendo. Portanto, não perca a chance de prosseguir e tenha um Déjà vu, que é uma característica super VIP:

- Gente, acabei de ter um Déjà vu degustando esse vinho. Lembro-me como ontem da minha infância no Vale do Loire e meus pais insistindo que eu identificasse o cheiro de morango num vinho. Então, hoje para mim é difícil aceitar qualquer tipo, é coisa de criação mesmo, sabe?


Continuação... Confira no livro.

domingo, 4 de julho de 2010